quinta-feira, 30 de junho de 2011

Deixei Escapar

Já faz algum tempo, não pouco, porém, muito seria exagerar da minha propria vivência. Já faz algum tempo que parte de algo, ou alguém... Não sei bem. Parte, metade, um pedaço, ou algo dessa linha, seja lá o que isso for, andou se desgrudando de mim. Criou pernas, ou asas quem sabe. Andou, voou pra bem longe. Agora, encontro-me a par de uma mente que já não mais entende o que se quer falar. Levou consigo aquela parte não amarga, mas doce, de apertar os olhos e amassar os lábios, no estilo laranja-lima madura em época errada. Tal pedaço levou consigo os pés de jabuticaba, e as plantas de toranja que me quimavam os pés, aquelas que tinham no sítio da vovó. A vontade de andar de bicicleta, excitante era, com meu bocado de amigos machões aspirantes de homens aos doze anos. O afago dos bichos estranhos e o conforto dos sentimentos simples. Para ser mais justa, o pedaço que me fora roubado, se fora com isso e um tanto mais. O pouco mais completo que eu costumava alimentar. Eu costumava inserir nessa parte doce-que-fazia-aparecer-careta-como-laranja-lima-madura-antes-do-tempo todos os prazeres infinitos de mim para mim. A felicidade de um chocolate que sobrou na geladeira. Quando mamãe sorria e deixava mostrar a marca de batom nos seus dentes tortuosos. Reclamar quando meu pai costumava cantar em alto som, com sua voz rouca, os singles do Dire Straits. Era bom até quando eu não sabia o que ele pretendia dizer com essas estranhas linguagens que as pessoas insistem em aprender. É maravilhosa a lembrança, que essa outra parte, deixou cair antes de se desprender. A falta ocupa cada vez mais espaço.
  
Deitar a cada lua, e acordar a cada dia sem saber se é hora do café, ou se já são meio-dia. Olhar no espelho e nada ver. Chorar e não saber o por quê. Talvez por não ter mais motivos para tantas lágrimas, ou vontade daquilo se aliviar. Adentrar em uma felicidade nas profundezas dos olhos alheios. Observar os passos. Os pássaros. Se lamentar por um filhote que não sobreviveu. Imaginar um lugar melhor e debruçar-se sobre a distância dos mundos. Ao invés da sobriedade, embebedar-se da fantasia e alimentar-se de loucura. Se perder nos próprios fios de cabelo, tropeçar nas próprias pernas. Acordar a si mesmo em meio à noite fria. Perder a noção da hora e não ter como partir. Romper com o mundo. Queimar os navios.
  
A bicicleta que já era velha, hoje não mais existe. O sítio da vovó tem na porta, fincada uma placa de "vende-se propriedade". Mamãe já não usa mais batom e papai já não reconhece Mark Knopfler e suas canções. Sou a nostalgia em nome e sentido. Não lamento pelo tempo que há de passar, ou pela Terra que tem que girar aliás, não é isso que me acanha. Compro uma felicidade aqui, troco uma acolá. É assim que as coisas funcionam pra mim. Ando embebedando, em copos cheios, um ser vazio. Sentindo pelos outros o que não me supre. Procurando uma razão onde nunca fora encontrada. E sem delongas: Estou farta. Não consigo digerir ao menos estes pensamentos que tento traduzir.
  
Aos demais, não espero compreensão. Algumas palavras. Muito esforço. Um texto apressado. Inacabado. Hoje já não sou hipérbole. Em eufemismo, chamo de desabafo o meu lamento. Sou covarde o bastante para não gostar de escritas em primeira pessoa, mas humilde para ousar das palavras o mais leve significado que possam ter. Se tiveres visto meu Eu vagando por ai, eu deixo você provar da minha felicidade. Saiba, porém, que meu coração está cheio e não há lugar para mais ninguém.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Meio

Era uma vez uma história…

Uma história de contínuo começo. Pequenina. Mal passada. Meio nova demais para ser desenrugada. Meio recente demais para ser guardada. Meio eufórica demais para ser pensada. Meio no começo, meio no meio… Um meio meio com muito meio.

Um meio de pouco aguardo, de contáveis pontos. Moderadas vírgulas. Um meio-muito desembestado, solto, descarrilado. Muito pouco desaproveitado e meio muito intenso a ser, no fim de tantos meios, respirado aliviado. Um meio entre dois, duas. Indivíduos. Pessoas. Que no começo desse meio, no final desse começo, se encontram para partilhar além das boas canções, das flores bonitas. Dos chocolates gostosos, das noites de sono tardio e dos encontros às escondidas, aquela vida.

Por fim, uma parte sem “meio”. Pois esse fim, dos fins/destino-e-término-de-muitas-histórias, aqui eu desconheço. Um final, que até com alguma fé em algo sobrenatural, é um fim de final sem rumo. Onde, quando nisso a cabeça voa, o coração não perdoa e pula para as minhas mãos. É um final desconhecido, impensado, que fora jogado, outrora descartado, e que por final, não chegou ao fim.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Em Qualquer Todo Lugar

Mergulhando no vazio das coisas cheias, afundando n'um rio envasado de profundezas. De encontro a mim, em meio à vida e suas belas raízes. De tantas cores, ruas e veredas. De muitas escolhas, esquinas, destinos, vitrines e ruelas. Na imensidão de amores, amigos, carinhos e desafetos. Em meio. Em torno. Na frente daquilo, atrás do escondido, ao lado do reprimido. Desprezando o novo e admirando o antigo. Na distancia do Chile a Belize, percorrendo Moscou a Toscana. N'um espaço
vivo.
vivido
vívido.

Lugares cheios ou vazios. Desconhecidos, mortais, pacíficos ou desfavorecidos. Na consciência, um mundo
tão grande, a ser assim chamado. Se literatura fosse, seria nessa dispensável comparação, o mais complexo dos sonetos, ou impossíveis decassílabos monossilábicos. Eu bendigo as coisas belas dessa grandeza no meu mundo consciente, onde luzes de neon dão vida aos lugares, onde parques estão cheios no verão, onde boa música é escutada aos quatro cantos e o silêncio se faz nas horas certas.

Estúpida idéia de felicidade-espaço a ser encontrada nos ares a fora. Me alimentei na idéia de esvoaçar por melhores locais, tardemente sucumbi no fato de que nada me bastaria. Me entresteci ao adormecer a cada noite e acordar a cada Sol na repetida realidade. Então me calou a boca o mesmo ar. Me baixou a cabeça o mesmo rosto. Me parou os pés as mesmas vozes.

Me derramou uma lágrima o mesmo quarto.
Me derramou a segunda lágrima a mesma cor.
Me derramou a terceira lágirma o mesmo Sol.
Me derramou a quarta lágrima a mesma flor.
Me derramou no chão a mesma falta.
Na alma, me fez sentir a dor.

Eu sinto. Eu sinto muito por saber de  todo esse mundo. Apreciar a grandeza dos sorrisos, das flores ou das borboletas. O belo não me falta. De tudo que pode ser. De tudo, quase pouco. Ou do nada que muito é. De poder ouvir, falar, tocar, e perceber. Meu dedos, que a terra há de abraçar um dia, poderiam chorar em desilusão ao confessar que felicidade não há. Me sobrando o mesmo fiasco de esperança que me diz, algum dia, na mais improvável condição, algum sorriso me ensinará a viver.