domingo, 15 de abril de 2012

Na rua 51

Tá vendo aquela casinha ali do canto, com a portinha entreaberta? É lá onde eu moro. Acordo com o canto dos colibris que vêm não sei de onde. Às vezes me parece que dormem ao meu lado. O canto é alto e de grande alegria. A portinha vermelha da entrada é de madeira pura, eu mesma encomendei. E esta casa, comprei de um novo rapaz que vinha de não se de onde e buscava um tal de novo mundo. Paguei à ele um tanto de fidelidade. Agora à vista, e um bocado pra mais tarde. Tenho um coração saudoso, e uma imensidão de sonhos. Se tu entrares, verás do que estou falando. Esta casa é mágica. É linda. Está imune das doenças e tem proteção contra os monstros. Nas paredes, finco o meu amor e o sorriso dele. Um punhado de risos e uma cama desarrumada. Manhãs de eterno brilho, e dias bonitos à neve como decoração. Tenho tapetes coloridos e umas velas, só para enfeitar. Vestidos floridos no guarda roupa, que é pra quando ele voltar. Já é de costume a vitrola soar sozinha às músicas do velho Dylan ao amanhecer, e as do Cash ao tardar. Ninguém aqui fica triste, sempre preparo biscoitos pro jantar. Quando aqui cheguei, confesso que me perdi. Não pela avenida pequena, ou pelas ruas tortuosas. Atordoei-me diante das melhores coisas que você possa imaginar: muita euforia, tanto amor, tanta alegria! Entendes agora o porquê, senhor? Como deixarei derrubar a minha pequena casinha? Querem tomá-la. Irão construir um novo imóvel sobre os pilares da minha velha serenidade. Nada poderei fazer senão achar uma nova morada. Felicidade tamanha me acompanhará nas lembranças da velha realidade para um novo lugar, com minha nova bagunça e dormidas no sofá.

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