segunda-feira, 25 de junho de 2012

Antes Meus Olhos Teus

Você acorda e olha para a janela. O Sol que há pouco nascera atrai os olhos teus. Ele brilhará durante todo o dia e você encaminhará a vida durante as breves horas que passarão. Como é bonito teus olhos recém acordados à luz do dia, marrom claro cor de noite bem dormida. Você levanta tonto. Sonhar tanto às vezes causa-lhe vertigens, porque não lhe basta sonhar em vida, parece-lhe mais cômodo sonhar de ombros deitados, com a verdade desarmada, bêbada demais.

Pequenos tropeços em pés ainda deitados. Levanta-te e sente sede de molhar a garganta e objetivar o próximos segundos. Tens refletida na própria pele o que te rodeia, e tens nas mãos o que pretendes. Caminha ainda sonolento em direção ao banheiro, onde o reflexo da face te põe diante à realidade do mesmo ambiente rosa-alaranjado, de azulejos antigos e de vida distorcida.

O café é forte como te convém. Te espera a cozinha vazia, ouves vozes ao longe, e observa as velharias no ármário. A casa parece-lhe grande demais assim como o vazio que trazes de longas datas e ali impusera. Agarra a orelha da caneca bonita, olha fixamente para um aleatório ponto na parede e engole a vida em largos goles. Abandona a louça com desprezo á pia, e estabelece o hoje enquanto caminha de volta ao quarto, sem conclusão alguma.

As flores que tentou cultivar não vingaram. O velho computador demora a ligar. O calor lhe sufoca. O seu amor foi embora. O coração revigora, e a mente diz que vai melhorar. Deita-te novamente adiando os compromissos e descansa como se fosse eterna a vida, e ao teu lado o gato robusto se delicia sob aconchego que transpira e com a eterna calma de quem nada perdeu.

O dia é longo mas a vida parece-lhe passar depressa. Assim sucede: e delonga, e se apressa o dia todo, aquele dia. Adormece novamente e revive o inexistente. Os devaneios em sono pesado, as lembranças ainda lúcidas e as perspectivas, aquilo que aqui personifico mas que não possui forma alguma.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Do Quase

Eu só queria te dizer que é assim mesmo. Quando os sentimentos andam meio empoeirados, meio esquecidos, eles acabam desse jeito. Todo atropelo. Tudo é muito, pouco é quase. Não dá pra entender o que começa e onde vai parar. Não que eu espere alguma coisa... é só muito confusa essa coisa de viver. Então peço um pouco de paciência com as palavras - as minhas frases, as suas vírgulas - e um pouco de caridade. Que, né... também preciso de um pouco de calma e conforto. E em algum momento provavelmente será possível, assim que passar essa desordem, barulho e incerteza dos momentos depois. Que eu não entendo e nem quero. É bom assim, todo errado, todo novidade, todo interrogações e noites olhando estrelas, procurando calma. É só assim que estou viva.

domingo, 15 de abril de 2012

Na rua 51

Tá vendo aquela casinha ali do canto, com a portinha entreaberta? É lá onde eu moro. Acordo com o canto dos colibris que vêm não sei de onde. Às vezes me parece que dormem ao meu lado. O canto é alto e de grande alegria. A portinha vermelha da entrada é de madeira pura, eu mesma encomendei. E esta casa, comprei de um novo rapaz que vinha de não se de onde e buscava um tal de novo mundo. Paguei à ele um tanto de fidelidade. Agora à vista, e um bocado pra mais tarde. Tenho um coração saudoso, e uma imensidão de sonhos. Se tu entrares, verás do que estou falando. Esta casa é mágica. É linda. Está imune das doenças e tem proteção contra os monstros. Nas paredes, finco o meu amor e o sorriso dele. Um punhado de risos e uma cama desarrumada. Manhãs de eterno brilho, e dias bonitos à neve como decoração. Tenho tapetes coloridos e umas velas, só para enfeitar. Vestidos floridos no guarda roupa, que é pra quando ele voltar. Já é de costume a vitrola soar sozinha às músicas do velho Dylan ao amanhecer, e as do Cash ao tardar. Ninguém aqui fica triste, sempre preparo biscoitos pro jantar. Quando aqui cheguei, confesso que me perdi. Não pela avenida pequena, ou pelas ruas tortuosas. Atordoei-me diante das melhores coisas que você possa imaginar: muita euforia, tanto amor, tanta alegria! Entendes agora o porquê, senhor? Como deixarei derrubar a minha pequena casinha? Querem tomá-la. Irão construir um novo imóvel sobre os pilares da minha velha serenidade. Nada poderei fazer senão achar uma nova morada. Felicidade tamanha me acompanhará nas lembranças da velha realidade para um novo lugar, com minha nova bagunça e dormidas no sofá.